Me alimento de livros (um deles
jamais deveria ter lido em toda a minha vida), filmes que geralmente assisto e
na primeira vez decoro as falas, músicas que por vezes ouço repetidamente por
dias, semanas, de sonhos as vezes jamais ousados se quer a serem sonhados, de amizades
que nem sempre são o que pensei que seriam – eternas - mas continuo tentando acreditar que possam
vir a ser... há um vazio no meu coração por pessoas que perdi, pelo meu filho que eu
covardemente abri mão devido a crueldade da mãe dele eme se colocar acima do próprio filho, por uma amiga, que era o meu único porto em toda vida, que se foi
sem me explicar o porque estava indo e hoje deixou um vazio gigantesco, por
um amor que sempre existiu, guardado de mim mesmo, que eu não sabia de sua existência, de quem eu somente
desejava um simples beijo mas tive infinitamente mais do que eu poderia ousar
sonhar a vida toda, por lguns dias, poucas horas... de esperanças, de
madrugadas solitárias por vezes dopado com remédios para tentar não pensar e
esquecer o que sei que jamais irei esquecer pois sou incapaz de esquecer aquilo que realmente
conta, importa, é essencial na vida...Me falta a tão comum capacidade tão presente na grande maioria das pessoas em tornar o passado em passado e esquecimento, me falta talvez força para aceitar o fato de que vi o quem sou capaz de ser para uma mulher, mas jamais novaente conseguirei ser para outra. Me alimento de sonhos e esperanças, de
uma força interior que nem sempre está presente, mas que por vezes e capaz de
me recolocar de pé quando todos, principalmente eu já acreditava que não mais
poderia ficar de pé, e por vezes por
acreditar que D'us realmente não joga dados.
Esse sou eu, em partes... Hoje bem
amargo feito um excelente chocolate Belga ou Suiço com 85% de cacau, mas
buscando a cada dia - já há exatos 96 dias - me libertar desse bitter taste in mouth... Tenho
duas doenças sem cura, uma delas controlada com medicações, exercícios e
terapia: a primeira, me roubou o que de mais precioso alguém pode ter na vida: tempo.
A outra o poeta canadense Leonard Cohen a descreve em um dos seus poemas que
foi brilhantemente musicado, “ain´t no cure for love”.
Março se tornou o meu mês
escolhido como o pior do ano pra sempre por ora, e um dia especificamente desse mês específico se
tornou o pior dia do ano, um dia que irá se repetir de forma perfeita a cada volta perfeita e irá sempre me trazer esse vazio, essa sensação de que não deveria ser como está sendo...
O mundo é regido
por leis rígidas e determinantes. É possível através da matemática saber
exatamente onde uma determinada estrela estava no exato dia e minuto do dia 13
de janeiro de 1973, e saber exatamente onde essa mesma estrela esteve no dia 17
de março de 2013 e há 35 anos atrás; ainda que ela não realize voltas perfeitamente redondinhas, e sim,
em sua maioria, elipses, ela é regida por leis que nos diz onde ela estará
daqui a 5, 10, 100 anos.
Pessoas ainda que
feitas de partes, no sentido literal, desse mesmo mundo físico onde essa e
todas as estrelas orbitam, feitas de poeiras de estrelas, não mudam: nós
humanos, somos o que somos. Mas não somos só o que mostramos ser em um
determinado momento. Não somos uma linha reta ou uma simples receita de
brigadeiro. Somos mais, infinitamente mais complexos do que isso. Algumas pessoas,
diria as sem graça, sem gosto, insipidas passam a vida seguindo, demonstrando
um só de seus lados, outas, as que realmente me prendem a atenção, me deixa
curioso e me fazem desejar estar com elas mais que um lapso de uma volta
perfeitamente completa, essas demonstram – não para todos, pois como a dança
das luzes do norte, ou as tempestades de areia nos desertos, são só vistas,
diria, somente se apresentam para poucas pessoas. Essas pessoas tem gosto, por
vezes amargo, doce, azedo, salgado ou simplesmente o quinto que ainda
não lhe foi dado nome. Essas pessoas são as que me despertam interesse, todas
as demais, diria as 99% restantes são como água: necessárias na vida, mas sem
sabor algum.
Escrevi - por
falta de uma palavra melhor que descreva, um livro, ou como eu prefiro dizer,
um amontoado de palavras seguidas, conexas e por vezes sem conexão e clareza
para pessoas que não sabem me ler - mas com certeza não passa de palavras e nada
mais. Ainda que com toda certeza ele não valha a pena a perda de tempo em ler
seu primeiro capítulo, o seu título eu achei, sem qualquer modéstia, perfeito:
O LABIRINTO DE NEVE: nem sempre se pode ser claro, ainda que eu 99% das vezes
seja claro, direto e não deixe margem para dúvidas, mas in casu, o título é perfeito, ainda que não diga o que realmente é.
Ninguém o leu e pode ser que ninguém o venha ler, pois eu mesmo assim prefiro. Então
restaria a pergunta, o porquê de ter escrito algo que não se quer que outra
pessoa venha a ler. E a resposta é simples e clara, opostamente a mim mesmo:
por pura necessidade de não matar dentro de mim o que por 23 anos sempre
existiu; por pura necessidade de não deixar o pior lado, de muitos dos lados,
de poucas pessoas como já disse, ser o lado que iria definir tal pessoa para
mim por mais 23 anos.
Ontem foi um dia
de alegria, de celebração, de L’chaim, mas não foi para mim. Acreditei que
passaria o dia dopado, entregue a Morpheu fugindo daquilo, de uma das minhas
duas doenças sem cura, fugindo do que É, FOI e SEMPRE SERÁ infelizmente e jamais deixará de ser desde que infelizmente me foi finalmente revelado, o que havia estado guardado no canto mais profundo do meu coração por longos 23 anos. Mas
estranhamente não foi como eu pensei que fosse: a AGONIA sofrida pelos
gladiadores não foi tão intensa como eu pensei que seria e vinha sendo desde o
começo desse mês que, não por minha vontade, mas por escolha daquilo que não
temos como escolher, é só nos resta aceitar como um fato, mais uma volta
perfeitamente redondinha, ou matematicamente falando, uma elipse perfeita e
inevitável. Mas hoje, no dia seguinte ao dia que me foi dado sem que eu pedisse
como o pior dos 365 dias, até mesmo o sol se mostra tímido e cede espaço para nuvens
e uma fina chuva que parece vir tentar limpar toda essa AGONIA.
Ainda doí muito,
e sei que jamais – sei de quem estou falando, sei quem são os dois personagens
dessa história que já havia sido escrita antes mesmo que o mais velho deles
fosse concebido e gerado, portando sei, ainda que todos, absolutamente todos teimem em querer saber mais do que o que sei sentindo – sei que jamais esse vazio será preenchido, mas a dor
já é menor.
Continuo
escolhendo a mim mesmo à multidão vazia e insipida, a mim mesmo à qualquer uma
ao meu lado, e continuo escolhendo não acalentar tal dor – ainda que pensem que
a acalento e me nutro dela. Continuo escolhendo somente ser quem eu sou: alguém
insipido, sem grandes realizações ou realização alguma e que mesmo já tendo
percorrido metade do tempo que me foi reservado, tem a plena consciência de
quem não é, e do que pode vir a ser.
Escolho continuar
de pé e acreditando que por pior que tenha sido, a grande maioria do tempo,
ainda sim, o Sonho foi vivido e eu jamais deixaria de vive-lo por medo da dor,
do sangue escorrendo, das cobras e lampreias disfarçadas de seres humanos com boas intenções, e do bitter taste in my mouth que agora é o que sinto ainda que tome literalmente mel de uma colher de prata.
É preciso coragem
para não renunciar a quem se é, como disse a Ucraniana, e amoral mesmo é
aceitar menos do que se sabe que se é se tem certeza do que é o que se viu.
Amoral é renunciar a si mesmo e ir deixando, não se transformar, pois não somos
coisas que podem ser mudadas, mas renunciar a quem se é. Amoral e aceitar menos
do que se vale.
Me alimento de
livros, músicas, filmes, pinturas e acima de tudo, de sonhos. E ao contrário da
grande maioria da humanidade, eu por um ínfimo lapso de uma perfeitamente
volta, vivi o meu maior sonho na vida, e posso dizer sem receio algum de ser dramático, jamais voltaria no tempo e deixaria de vive-lo exatamente como o vivi.
Sendo assim... L’chaim.