sábado, 20 de abril de 2013

Só você mesmo é capaz de dizer quem é: só quem tem valor é capaz de se olhar no espelho!



Não espere de ninguém – nem mesmo das pessoas mais próximas de você, as que ama e pelas quais desceria até os portões do Inferno para resgata-las – reconhecimento pelo o que fez, pelo o que disse, é e faz. Não espere de ninguém aquilo que só você mesmo pode lhe dar: Olhe-se no espelho, não por um lapso de tempo, mas de forma lenta e demorada como é a mutação da criação da vida em si. Dê-se tempo de olhar cada detalhe do seu rosto: se já conta com rugas e cabelos brancos, os veja de forma consciente e não como sofrimento: o tempo age sobre tudo, até mesmo sobre o Espaço. Olhe sobretudo seus olhos e veja o que eles mostram, o que eles lhe mostram: sábio foi o poeta que disse que os “olhos são a janela para a alma”, e dessa janela, através dessa janela que você irá ver quem realmente é. Não importa a cor, não importa o formato, mas sim, importa o brilho e o que sua alma ali é refletida. Não espere de ninguém o reconhecimento pelo o que veio a se tornar, pelo o que é; não espere salvas ou medalhas pelas batalhas que travou e ainda trava: elas não dizem realmente quem você é, pois são incapazes de dizer o que se passou dentro de si quando chegou o momento de decidir em que direção ir e quando finalmente – acredite a fatura sempre chega, para alguns antes, para outros, com certo atraso visto por outros, mas ela chega – o preço lhe foi cobrado por tal caminho, por tal decisão. Não acalente seus erros – conselho fácil de ser dado e extremamente difícil de ser seguido, seja por que lhe dá, seja para quem é dado: “arrependa-se dos seus erros, tente se desculpar, procure aprender com os seus próprios erros” – é impossível aprender sem tentar, e mais impossível ainda tentar e não errar; tão pouco é impossível não errar: é isso que nos torna humanos, por vezes, demasiadamente humanos – “mas de forma alguma acalente, nutre, viva no seu erro como se ele lhe fosse necessário: não é sábio tentar se limpar usando a sujeira”.

Não espere reconhecimento pelos seus méritos, não espere piedade pelas suas dores e sofrimentos: nada pior e maléfico do que a doutrina que acredita que devemos sofrer e quanto mais sofredores, mais merecedores seremos de algo melhor no futuro, ou para alguns, em outra vida, ou outras vidas: isso nos torna escravos da miséria, isso nos torna reféns de nossa própria dor e miséria e reféns daqueles que irão se sentir no dever de serem nossos salvadores, não por nobreza de coração, mas por pura vaidade pessoal em serem salvadores em si.

Somente olhando dentro de nossa própria alma, através da dura e sofrida experiência de nos ver no espelho, sem maquiagem, penumbra, piedade,  autocomiseração, olhando nos nossos próprios olhos, e que iremos realmente saber quem somos, no que nos tornamos e termos condições de sentir orgulho ou nojo: acredite, não há outros dois sentimentos humanos que se possa sentir por si mesmo. O nojo é algo rápido, como uma náusea imediata, que nos faz desviar os olhos do espelho e voltarmos a não olharmos pra nós mesmos, por sabermos que não fizemos o que deveríamos ter feito que não nos tornamos o que deveríamos ter nos tornado, que não lutamos contra o nosso pior inimigo, nosso EU e por fim nos deixamos ser vencidos por nós mesmos e aceitamos ser o que sabemos que não deveríamos. O nojo é o que podemos vir a sentir se não tivermos, ainda que sido jogados no chão pela vida – e a vida não é algo concreto ou inanimado, uma entidade, uma sensação, mas sim as nossas decisões, os nossos caminhos, os nossos erros e acertos – e não tivermos tido coragem de nos levantar, e nos levantar novamente e uma vez além da vez que formos jogados no chão.

O nojo que se sente ao se olhar no espelho, ainda que tão somente suportado por uma fração de segundo -  como o tempo necessário para que uma estrela que viveu por bilhões de anos por fim morra -  afinal, temos vergonha do que vemos em nós mesmos, do que a janela da nossa alma nos mostra, é a tradução de tudo aquilo que aceitamos, deixamos que nos fizessem, é tudo aquilo que nos faz não viver a vida de forma plena, seja qual vida for, da mais simples como  do agricultor que acorda ainda com o sol dormindo e com sua enxada vai buscar com o suor do seu corpo o seu sustento e o de sua família, ou do que acorda já como sol alto e com o seu cérebro produz riquezas financeiras e gera uma corrente de benefícios para milhares de pessoas: não se mede uma pessoa pelo o que ela tem em seu bolso, em sua garagem, pela sua formação profissional, pela sua capacidade de decifrar códigos genéticos ou sua incapacidade de simplesmente ler. Pessoas não medidas por medidas mensuráveis fisicamente, mas sim por medidas que são imensuráveis. O nojo que se sente ao se ver no espelho, e quase imediatamente desviar os olhos, é decorrente da vergonha do que se enxerga realmente em si mesmo.

Mas para aqueles que, mesmo já com o rosto sulcado por rugas, cabelos brancos, poucas posses ou contas bancárias milionárias, boias fria ou cirurgiões, engenheiros espaciais ou simples garis, para aqueles que ao se virem no espelho são capazes de não fugirem da sua própria imagem, daquilo que realmente é ali refletido, daquilo que é claramente mostrado -  como o nascer do sol rasgando a noite anterior e inundando o quarto através do quarto sem cortinas – aqueles que enxergam nos seus olhos a verdade do seu ser, esses são os que podem e devem se orgulhar do que são, e o do que vieram a se tornar. Orgulhosos de não viveram a vida jogando um dia sobre o outro sem pensar no que haviam feito antes ou das consequências de suas decisões e atos sobre si e sobre a vida de outras pessoas.

Não espere reconhecimento, medalhas, honras, palavras, olhares, diplomas ou qualquer outra forma de reconhecimento de outra pessoa, de outras pessoas, sejam elas quem forem;

Só você é capaz de saber o valor que tem só você é capaz de sentir ou não orgulho pelas decisões que tomou e o quanto elas lhe custou. Só você é capaz de olhar nos seus próprios olhos e saber quem de fato é: desta forma, se busca reconhecimento, tenha coragem e se olhe atentamente em um espelho, e olhe na profundeza de seus olhos, no interior de sua alma. Esse é o único e real reconhecimento que irá ter durante a vida: saber quem é, que se esforçou, ainda que não tenha tido sucesso, que não acumulou dias os jogando sobre os já vividos como meio de não parar para compreender, dimensionar, refletir e se arrepender ou não do que fez no passado. Saiba que é, quem de fato é. Todo o resto é somente o que pessoas que não viveram o que sentiu, passou e fez irão lhe dizer, de forma às vezes cruel é dura, se piedade, ou de forma lisonjeira, mas nem sempre verdadeira.

Acredite só você sabe a dor de ser quem é, e o preço que pagou por ser quem se tornou, e se é capaz de se olhar no espelho e não sentir nojo de si mesmo está no caminho certo.