sábado, 20 de abril de 2013

Só você mesmo é capaz de dizer quem é: só quem tem valor é capaz de se olhar no espelho!



Não espere de ninguém – nem mesmo das pessoas mais próximas de você, as que ama e pelas quais desceria até os portões do Inferno para resgata-las – reconhecimento pelo o que fez, pelo o que disse, é e faz. Não espere de ninguém aquilo que só você mesmo pode lhe dar: Olhe-se no espelho, não por um lapso de tempo, mas de forma lenta e demorada como é a mutação da criação da vida em si. Dê-se tempo de olhar cada detalhe do seu rosto: se já conta com rugas e cabelos brancos, os veja de forma consciente e não como sofrimento: o tempo age sobre tudo, até mesmo sobre o Espaço. Olhe sobretudo seus olhos e veja o que eles mostram, o que eles lhe mostram: sábio foi o poeta que disse que os “olhos são a janela para a alma”, e dessa janela, através dessa janela que você irá ver quem realmente é. Não importa a cor, não importa o formato, mas sim, importa o brilho e o que sua alma ali é refletida. Não espere de ninguém o reconhecimento pelo o que veio a se tornar, pelo o que é; não espere salvas ou medalhas pelas batalhas que travou e ainda trava: elas não dizem realmente quem você é, pois são incapazes de dizer o que se passou dentro de si quando chegou o momento de decidir em que direção ir e quando finalmente – acredite a fatura sempre chega, para alguns antes, para outros, com certo atraso visto por outros, mas ela chega – o preço lhe foi cobrado por tal caminho, por tal decisão. Não acalente seus erros – conselho fácil de ser dado e extremamente difícil de ser seguido, seja por que lhe dá, seja para quem é dado: “arrependa-se dos seus erros, tente se desculpar, procure aprender com os seus próprios erros” – é impossível aprender sem tentar, e mais impossível ainda tentar e não errar; tão pouco é impossível não errar: é isso que nos torna humanos, por vezes, demasiadamente humanos – “mas de forma alguma acalente, nutre, viva no seu erro como se ele lhe fosse necessário: não é sábio tentar se limpar usando a sujeira”.

Não espere reconhecimento pelos seus méritos, não espere piedade pelas suas dores e sofrimentos: nada pior e maléfico do que a doutrina que acredita que devemos sofrer e quanto mais sofredores, mais merecedores seremos de algo melhor no futuro, ou para alguns, em outra vida, ou outras vidas: isso nos torna escravos da miséria, isso nos torna reféns de nossa própria dor e miséria e reféns daqueles que irão se sentir no dever de serem nossos salvadores, não por nobreza de coração, mas por pura vaidade pessoal em serem salvadores em si.

Somente olhando dentro de nossa própria alma, através da dura e sofrida experiência de nos ver no espelho, sem maquiagem, penumbra, piedade,  autocomiseração, olhando nos nossos próprios olhos, e que iremos realmente saber quem somos, no que nos tornamos e termos condições de sentir orgulho ou nojo: acredite, não há outros dois sentimentos humanos que se possa sentir por si mesmo. O nojo é algo rápido, como uma náusea imediata, que nos faz desviar os olhos do espelho e voltarmos a não olharmos pra nós mesmos, por sabermos que não fizemos o que deveríamos ter feito que não nos tornamos o que deveríamos ter nos tornado, que não lutamos contra o nosso pior inimigo, nosso EU e por fim nos deixamos ser vencidos por nós mesmos e aceitamos ser o que sabemos que não deveríamos. O nojo é o que podemos vir a sentir se não tivermos, ainda que sido jogados no chão pela vida – e a vida não é algo concreto ou inanimado, uma entidade, uma sensação, mas sim as nossas decisões, os nossos caminhos, os nossos erros e acertos – e não tivermos tido coragem de nos levantar, e nos levantar novamente e uma vez além da vez que formos jogados no chão.

O nojo que se sente ao se olhar no espelho, ainda que tão somente suportado por uma fração de segundo -  como o tempo necessário para que uma estrela que viveu por bilhões de anos por fim morra -  afinal, temos vergonha do que vemos em nós mesmos, do que a janela da nossa alma nos mostra, é a tradução de tudo aquilo que aceitamos, deixamos que nos fizessem, é tudo aquilo que nos faz não viver a vida de forma plena, seja qual vida for, da mais simples como  do agricultor que acorda ainda com o sol dormindo e com sua enxada vai buscar com o suor do seu corpo o seu sustento e o de sua família, ou do que acorda já como sol alto e com o seu cérebro produz riquezas financeiras e gera uma corrente de benefícios para milhares de pessoas: não se mede uma pessoa pelo o que ela tem em seu bolso, em sua garagem, pela sua formação profissional, pela sua capacidade de decifrar códigos genéticos ou sua incapacidade de simplesmente ler. Pessoas não medidas por medidas mensuráveis fisicamente, mas sim por medidas que são imensuráveis. O nojo que se sente ao se ver no espelho, e quase imediatamente desviar os olhos, é decorrente da vergonha do que se enxerga realmente em si mesmo.

Mas para aqueles que, mesmo já com o rosto sulcado por rugas, cabelos brancos, poucas posses ou contas bancárias milionárias, boias fria ou cirurgiões, engenheiros espaciais ou simples garis, para aqueles que ao se virem no espelho são capazes de não fugirem da sua própria imagem, daquilo que realmente é ali refletido, daquilo que é claramente mostrado -  como o nascer do sol rasgando a noite anterior e inundando o quarto através do quarto sem cortinas – aqueles que enxergam nos seus olhos a verdade do seu ser, esses são os que podem e devem se orgulhar do que são, e o do que vieram a se tornar. Orgulhosos de não viveram a vida jogando um dia sobre o outro sem pensar no que haviam feito antes ou das consequências de suas decisões e atos sobre si e sobre a vida de outras pessoas.

Não espere reconhecimento, medalhas, honras, palavras, olhares, diplomas ou qualquer outra forma de reconhecimento de outra pessoa, de outras pessoas, sejam elas quem forem;

Só você é capaz de saber o valor que tem só você é capaz de sentir ou não orgulho pelas decisões que tomou e o quanto elas lhe custou. Só você é capaz de olhar nos seus próprios olhos e saber quem de fato é: desta forma, se busca reconhecimento, tenha coragem e se olhe atentamente em um espelho, e olhe na profundeza de seus olhos, no interior de sua alma. Esse é o único e real reconhecimento que irá ter durante a vida: saber quem é, que se esforçou, ainda que não tenha tido sucesso, que não acumulou dias os jogando sobre os já vividos como meio de não parar para compreender, dimensionar, refletir e se arrepender ou não do que fez no passado. Saiba que é, quem de fato é. Todo o resto é somente o que pessoas que não viveram o que sentiu, passou e fez irão lhe dizer, de forma às vezes cruel é dura, se piedade, ou de forma lisonjeira, mas nem sempre verdadeira.

Acredite só você sabe a dor de ser quem é, e o preço que pagou por ser quem se tornou, e se é capaz de se olhar no espelho e não sentir nojo de si mesmo está no caminho certo.

segunda-feira, 25 de março de 2013

A minha escolha e continuar a guardar somente a imagem que eu sempre tive e sei que é real.

Você não tem noção do que fez... não tem noção do que fez quando começou, quando disse o que disse e desta forma ficou gravado pra sempre dentro de mim; não tem noção do que disse quando me pediu o que pediu... não tem noção do que fez com uma pessoa, com um homem quando disse tudo que ele jamais se quer ousou sonhar em ouvir, mas sempre sonhou em ouvir de VOCÊ em seus mais íntimos e secretos sonhos;  não tem noção da importância de cada letra                 - a b s o l u t a m e n t e   c a d a   l e t r a   q u e  d i s s e - sobre a vida de uma PESSOA, um ser que sente dor, frio, fome, saudade, desejo, desprezo, nojo, felicidade, tristeza e todos os outros milhares de sentimentos que você mesma e todo ser humano  sente, já sentiu e irá sentir durante o resto da sua vida.  Você não teve noção, cuidado, carinho, atenção e tão pouco respeito pelo sentimento da AMIZADE que sempre existiu e nem mesmo as pessoas ao seu redor - as mais próximas de você, ligadas pelo sangue até - e nem mesmo  o tempo -  o tempo que consegue correr  até o mais puro aço e reforçado concreto que edifica pontes e prédios - conseguiu corroer,  se quer diminuir esse sentimento de AMIZADE que sempre existiu entre nós, ainda que o tempo tenha sido longo entre as nossas últimas palavras ditas e as primeiras ditas novamente. Você não tem noção do que fez, e infelizmente pouco se importa e se quer pensa no que fez... mas fez e o que fez jamais poderá ser desfeito.

Mas ainda sim, ESCOLHO, essa é a palavra, E S C O L H O guardar de você só o melhor que via e vi: dentro de mim não há lugar para guardar o que de ruim você foi capaz de ser, dizer e fazer. A minha escolha e continuar a guardar somente a imagem que eu sempre tive e sei que é real. 

"Não vou me deixar embrutecer
Eu acredito nos meus ideais
Podem até maltratar meu coração
Que meu espírito ninguém vai conseguir quebrar!" nem mesmo você.

A porta está se fechando e pra sempre será lacrada.



Há uma porta que foi aberta há um tempo - há pouco mais de meia volta perfeitamente redondinha - aberta pela ÚNICA pessoa que a poderia abrir e aberta por sua inteira e livre vontade.  Uma porta que libertou o que ninguém sabia que existia, nem mesmo eu sabia,  mas ainda sim vivia e respirava delicadamente para que ninguém ouvisse seu ruído...um sentimento que nem mesmo o tempo conseguiu destruir, diminuir, mas que se calou por receio de ser notado por quem quer que fosse, mas real, honesto, sincero e acima de tudo, verdadeiro. Esse sentimento viveu escondido de todos, mas viveu e quando essa porta foi aberta, aberta pela única pessoa que a poderia abrir, pois ele pertencia à ela,  ele como o Big Bang que deu oritem a tudo que existe,  se libertou e tomou conta de tudo ao seu redor: agora ele poderia respirar a plenos pulmões, viver sem se envergonhar de existir, e buscar se nutrir do mesmo sentimento que ele era: assim é o sentimento, assim é o amor, ele se nutre de si mesmo e quanto mais ele se entrega, mais ele vive.

Mas essa porta há um tempo começou a se fechar, ou começou a ser fechada: essa ordem não altera o seu efeito: ela está se fechando. Lentamente, centímetro por centímetro, mas está se fechando e quando ela finalmente se fechar, ela será de vez não só fechada, mas lacrada e selada e jamais, jamais novamente poderá ser reaberta, nem mesmo pela única pessoa que um dia pode abri-la e o fez por sua única vontade.



Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.

Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;

Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;

Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;

Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar;

Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora;

Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;

Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.
Eclesiastes 3:1-8”



E esse tempo está chegando ao fim. Está porta está se FECHANDO PRA SEMPRE, E PRA SEMPRE IRÁ SE MANTER FECHADA.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Sendo assim... L’chaim.

Me alimento de livros (um deles jamais deveria ter lido em toda a minha vida), filmes que geralmente assisto e na primeira vez decoro as falas, músicas que por vezes ouço repetidamente por dias, semanas, de sonhos as vezes jamais ousados se quer a serem sonhados, de amizades que nem sempre são o que pensei que seriam – eternas -  mas continuo tentando acreditar que possam vir a ser... há um vazio no meu coração por pessoas que perdi, pelo meu filho que eu covardemente abri mão devido a crueldade da mãe dele eme se colocar acima do próprio filho, por uma amiga, que era o meu único porto em toda vida,  que se foi sem me explicar o porque estava indo e hoje  deixou um vazio gigantesco, por um amor que sempre existiu, guardado de mim mesmo, que eu não sabia de sua existência, de quem  eu somente desejava um simples beijo mas tive infinitamente mais do que eu poderia ousar sonhar a vida toda, por lguns dias, poucas horas... de esperanças, de madrugadas solitárias por vezes dopado com remédios para tentar não pensar e esquecer o que sei que jamais irei esquecer pois  sou incapaz de esquecer aquilo que realmente conta, importa, é essencial na vida...Me falta a tão comum capacidade tão presente na grande maioria das pessoas em tornar o passado em passado e esquecimento, me falta talvez força para aceitar o fato de que vi o quem sou capaz de ser para uma mulher, mas jamais novaente conseguirei ser para outra. Me alimento de sonhos e esperanças, de uma força interior que nem sempre está presente, mas que por vezes e capaz de me recolocar de pé quando todos, principalmente eu já acreditava que não mais poderia ficar de pé,  e por vezes por acreditar que D'us realmente não joga dados. 


Esse sou eu, em partes... Hoje bem amargo feito um excelente chocolate Belga ou Suiço com 85% de cacau, mas buscando a cada dia -  já há exatos 96 dias -  me libertar desse bitter taste in mouth... Tenho duas doenças sem cura, uma delas controlada com medicações, exercícios e terapia:  a primeira, me roubou o que de mais precioso alguém pode ter na vida: tempo. A outra o poeta canadense Leonard Cohen a descreve em um dos seus poemas que foi brilhantemente musicado, “ain´t no cure for love”. 

Março se tornou o meu mês escolhido como o pior do ano pra sempre por ora, e um dia especificamente desse mês específico se tornou o pior dia do ano, um dia que irá se repetir de forma perfeita a cada volta perfeita e irá sempre me trazer esse vazio, essa sensação de que não deveria ser como está sendo...
 

O mundo é regido por leis rígidas e determinantes. É possível através da matemática saber exatamente onde uma determinada estrela estava no exato dia e minuto do dia 13 de janeiro de 1973, e saber exatamente onde essa mesma estrela esteve no dia 17 de março de 2013 e há 35 anos atrás; ainda que ela não realize voltas perfeitamente redondinhas, e sim, em sua maioria, elipses, ela é regida por leis que nos diz onde ela estará daqui a 5, 10, 100 anos. 


Pessoas ainda que feitas de partes, no sentido literal, desse mesmo mundo físico onde essa e todas as estrelas orbitam, feitas de poeiras de estrelas, não mudam: nós humanos, somos o que somos. Mas não somos só o que mostramos ser em um determinado momento. Não somos uma linha reta ou uma simples receita de brigadeiro. Somos mais, infinitamente mais complexos do que isso. Algumas pessoas, diria as sem graça, sem gosto, insipidas passam a vida seguindo, demonstrando um só de seus lados, outas, as que realmente me prendem a atenção, me deixa curioso e me fazem desejar estar com elas mais que um lapso de uma volta perfeitamente completa, essas demonstram – não para todos, pois como a dança das luzes do norte, ou as tempestades de areia nos desertos, são só vistas, diria, somente se apresentam para poucas pessoas. Essas pessoas tem gosto, por vezes amargo, doce, azedo, salgado ou simplesmente o quinto que ainda não lhe foi dado nome. Essas pessoas são as que me despertam interesse, todas as demais, diria as 99% restantes são como água: necessárias na vida, mas sem sabor algum. 


Escrevi por falta de uma palavra melhor que descreva, um livro, ou como eu prefiro dizer, um amontoado de palavras seguidas, conexas e por vezes sem conexão e clareza para pessoas que não sabem me ler -  mas com certeza não passa de palavras e nada mais. Ainda que com toda certeza ele não valha a pena a perda de tempo em ler seu primeiro capítulo, o seu título eu achei, sem qualquer modéstia, perfeito: O LABIRINTO DE NEVE: nem sempre se pode ser claro, ainda que eu 99% das vezes seja claro, direto e não deixe margem para dúvidas, mas in casu, o título é perfeito, ainda que não diga o que realmente é. Ninguém o leu e pode ser que ninguém o venha ler, pois eu mesmo assim prefiro. Então restaria a pergunta, o porquê de ter escrito algo que não se quer que outra pessoa venha a ler. E a resposta é simples e clara, opostamente a mim mesmo: por pura necessidade de não matar dentro de mim o que por 23 anos sempre existiu; por pura necessidade de não deixar o pior lado, de muitos dos lados, de poucas pessoas como já disse, ser o lado que iria definir tal pessoa para mim por mais 23 anos.


Ontem foi um dia de alegria, de celebração, de L’chaim, mas não foi para mim. Acreditei que passaria o dia dopado, entregue a Morpheu fugindo daquilo, de uma das minhas duas doenças sem cura, fugindo do que É, FOI e SEMPRE SERÁ infelizmente e jamais deixará de ser desde que infelizmente me foi finalmente revelado, o que havia estado guardado no canto mais profundo do meu coração por longos 23 anos. Mas estranhamente não foi como eu pensei que fosse: a AGONIA sofrida pelos gladiadores não foi tão intensa como eu pensei que seria e vinha sendo desde o começo desse mês que, não por minha vontade, mas por escolha daquilo que não temos como escolher, é só nos resta aceitar como um fato, mais uma volta perfeitamente redondinha, ou matematicamente falando, uma elipse perfeita e inevitável. Mas hoje, no dia seguinte ao dia que me foi dado sem que eu pedisse como o pior dos 365 dias, até mesmo o sol se mostra tímido e cede espaço para nuvens e uma fina chuva que parece vir tentar limpar toda essa AGONIA.


Ainda doí muito, e sei que jamais – sei de quem estou falando, sei quem são os dois personagens dessa história que já havia sido escrita antes mesmo que o mais velho deles fosse concebido e gerado, portando sei, ainda que todos, absolutamente todos teimem em querer saber mais do que o que sei sentindo – sei que jamais esse vazio será preenchido, mas a dor já é menor.

Continuo escolhendo a mim mesmo à multidão vazia e insipida, a mim mesmo à qualquer uma ao meu lado, e continuo escolhendo não acalentar tal dor – ainda que pensem que a acalento e me nutro dela. Continuo escolhendo somente ser quem eu sou: alguém insipido, sem grandes realizações ou realização alguma e que mesmo já tendo percorrido metade do tempo que me foi reservado, tem a plena consciência de quem não é, e do que pode vir a ser.

Escolho continuar de pé e acreditando que por pior que tenha sido, a grande maioria do tempo, ainda sim, o Sonho foi vivido e eu jamais deixaria de vive-lo por medo da dor, do sangue escorrendo, das cobras e lampreias disfarçadas de seres humanos com boas intenções,  e do bitter taste in my mouth que agora é o que sinto ainda que tome literalmente mel de uma colher de prata.
 

É preciso coragem para não renunciar a quem se é, como disse a Ucraniana, e amoral mesmo é aceitar menos do que se sabe que se é se tem certeza do que é o que se viu. Amoral é renunciar a si mesmo e ir deixando, não se transformar, pois não somos coisas que podem ser mudadas, mas renunciar a quem se é. Amoral e aceitar menos do que se vale.


Me alimento de livros, músicas, filmes, pinturas e acima de tudo, de sonhos. E ao contrário da grande maioria da humanidade, eu por um ínfimo lapso de uma perfeitamente volta, vivi o meu maior sonho na vida, e posso dizer sem receio algum de ser dramático, jamais voltaria no tempo e deixaria de vive-lo exatamente como o vivi.
 Sendo assim... L’chaim.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Pontes para Argentina




Pontes para Argentina


PRIMEIRA PARTE
ZONA DE CONFORTO EM GOTAS




CAPÍLULO I  

     Já são quase 17h e só agora acordo. Às vezes durmo mais de 20 horas seguidas, às vezes a droga ainda faz efeito, mas cada dia mais, dia após dia, ela faz menos efeito, e cada vez mais preciso aumentar a dose. Agora espero só que o sol se ponha para que eu possa me drogar novamente e simplesmente tentar fugir de tudo isso. Uma fuga desesperada de tudo que sou, do que me tornei por minha culpa, do que poderia ter sido se não fosse minha culpa. Ainda restam alguns minutos de luz para que a droga faça um efeito maior: entendi que durante o dia é mais difícil conseguir me entorpecer do que à noite. Aprendi a me dopar e a ajudar a droga a fazer um efeito maior e mais imediato: realmente a prática leva a perfeição. Desenvolvi um coquetel onde em poucos minutos – por vezes até mesmo esses poucos minutos é tempo demais – me levam pra longe de mim mesmo. Mas não posso dizer que seja um sono confortavelmente entorpecido, como diz a música que ouço sem parar. Antes é um sono ruim, onde quase nunca sonho, algo raro. Um sono pesado, dopado, que quase sempre me traz pesadelos e não sonhos, onde meu subconsciente não fala, grita, e grita tudo aquilo que do que eu tento fugir. No final de forma consciente eu busco o meu inconsciente para me dizer sem que eu peça o que eu não quero ouvir, pois já sei de cor. Ou é pura covardia em viver e encarar a vida.
Mas outras vezes não funciona. Por mais que eu me dope, que eu aumente a dose em níveis perigosos há tanto barulho dentro da minha cabeça que é impossível dormir. São noites de martírio, de culpa, de pensamentos que não fazem sentido a não ser dentro da minha cabeça sem rumo, perdida em tantos caminhos errados. Por fim com tanta droga ingerida, não durmo, mas fico em um estado de latência vagando pela casa, esperando o dia chegar como agora.
     O suicídio me ronda constantemente, lentamente ele se torna um amigo quase inseparável. É a vantagem de não se acreditar em um D’us, em céu, punição, em inferno, em ajuda divina, afinal depois de tudo, seria impossível acreditar que existe um ser acima de tudo que olhe por nós, que poderia simplesmente evitar tanto sofrimento de tantas pessoas e simplesmente não o faz, por puro sadismo ou por um ego tão gigantesco quanto à dimensão que aqueles que nele creem dão, que só ajuda se forem seus adoradores, e quase sempre nem assim: um D’us, novamente como desde sempre pela humanidade, criado com características humanas, o que não faz sentido algum. Mas ainda sim invejo aqueles que acreditam em tudo isso, que se convencem dos seus mistérios, que contam pra si mesmo a maior mentira de todas: a que somos incapazes de entender seus desígnios e caminhos, que somos livres mesmo sendo escravos desse D’us punitivo, egocêntrico, sádico até. Eles conseguem através dessa adoração sem nexo e nem sentido um perdão a si mesmos, um alento as suas dores, uma esperança na qual há muito eu já perdi. Gostaria de ser ignorante, no lato sentido da palavra: não há nada mais libertador do que a ignorância: não se deseja não se busca respostas e quando não as encontra se atribui a sua própria incapacidade de entender um plano maior. São felizes os ignorantes. Aqueles que não viram o que a vida pode de fato dar e, portanto não sofrem por não terem. Padeço da falta dessa tão acalentadora ignorância.
     Como o bêbado do bairro, que mendiga pelas por poucas ruas, que dorme ao relento, o suicídio está sempre presente em minha mente. E novamente como o bêbado mendigo, às vezes passa dias sem ser visto e só após certo tempo se nota que ele não está mais ali onde costumava estar, mas sempre volta, sempre está em sua esquina esmolando, bebendo até cair. Sempre me ronda, indo e vindo. Quase sempre é a saída mais fácil, alguns dizem, mas quase sempre é a saída mais difícil para outros, mas sempre é uma saída. Horas passadas pensando em como fazer, em como seria, no meio mais indolor, mas sempre com pensamentos indo e vindo feito o bêbado.
Nesse exato momento, a janela fechada, já alta madrugada – não sei dizer as horas – já dopado, mas mais uma vez não completamente e confortavelmente entorpecido por tanto barulho dentro da minha cabeça, tento colocar em frases, em palavras que talvez não façam sentido algum para quem um dia as possa ler, o que está me ensurdecendo de tão alto que ouço. Há duas músicas, agora uma que condiz e traduz toda essa loucura e falta de rumo, e uma delas toca sem parar, repetindo como um disco antigo que chega ao fim e retorna ao ponto de início.
     Vago na imensidão do Pacífico, sem leme, com velas rasgadas, solitário mais uma vez, sentido muito frio, mas sem sentir desconforto: o desconforto maior está dentro de mim. Vejo que tenho pouca água, quem sabe dure mais um mês, ou menos, e comida suficiente para menos de dez dias.
Sempre há um começo para tudo, um ponto onde tudo muda, mas raramente nos damos conta disso. Hoje eu sei qual foi esse ponto, esse meu ponto que me levou a me dopar dia após dia, buscando fugir de uma dor insuportável, que aos olhos dos outros não é nada, é algo bobo, passageiro, fraqueza. Hoje sei quando foi esse meu ponto sem volta. Foi quando eu vi a Argentina e ela de vez entrou na minha vida. Será que as pessoas sabem que ela tem predominantemente duas cores? O branco e um azul intenso que traga lentamente como se fossem os olhos da própria Capitu? E ela é assim em suas cores. Ela foi o começo de tudo que hoje desmorona ao meu redor. Você foi uma das poucas privilegiadas – há outro verbo que não privilégio? – a conhecer, e só você sabe do que eu estou falando. Quantas vezes ao longo desses anos todos só você soube ou conseguiu entender o que eu dizia, falava e sentia.
     Mas sou um eterno atrasado, me falta a pontualidade inglesa, sabe bem disso, e me sobra o pagamento por tais atrasos em compreender a tempo o que de fato é importante e único às vezes. Sabe bem o que minha vida teria sido junto dela, ao lado dela, com todo aquele azul e branco, em terras tão distantes e únicas, com sua exclusiva ludicidade que ela era em mim e eu provocava nela como jamais ela, tão pouco eu, havíamos tido.
     Ela foi a única que você de fato quis se aproximar e conhecer, e isso por si só já deveria ter sido um claro sinal pra mim, pois você sempre soube o que era melhor pra mim, sempre soube me mostrar o norte correto e me falar do seu jeito tão único, suave e doce, que eu deveria corrigir o rumo da proa. Ademais, você sempre se cercou do que há de melhor. Mas cego por essa doença que já faz parte do que sou há 20 anos, ou simplesmente cego pela imaturidade, pelo ego, pela falta de empatia aos sentimentos dos outros eu não entendi, eu não enxerguei que era junto da Argentina que minha vida deveria existir, e acima de tudo, viver e não sobreviver como faço agora rodeado pelo meu constante amigo ceifador de vidas e aliviador de dores da alma, ainda que eu não tenha uma, agora nessa volta final de mais uma perfeita volta da vida.
     Eu, você, sabemos o quanto ela tentou, o quão ela lutou para que eu enxergasse isso, mas nós dóis sabemos o quanto eu desprezei cada esforço, cada palavra que ela me disse, e o quanto eu a fiz sofrer. Nem mesmo Dante em sua Comédia teria tido tanta inspiração para descrever toda dor e infortúnio que eu a fiz padecer, e ela por anos, de forma estoica, suportou e continuou tentando. Não sou hipócrita. Acredito que seja um dos poucos defeitos que me faltam, então desta forma, você sabe bem, que não se tratava de testar o limite da força do amor dela por mim, como sempre faço a fim de saber se é real ou pura ilusão. Sei o que fiz: menosprezei, não cuidei do jardim que ela tanto tentou cultivar, não valorizei a única razão que se há para viver, o amor, o amor que ela sentia por mim e sentia de forma incondicional. Ela me viu, ela me enxergou e viu quem eu de fato era, e ainda sim quis ficar e quis pagar o preço para estar comigo, mas fui mais forte, sendo mais fraco, e consegui destruí-la e destruir esse amor. Não devo pagar por isso? Sabe que sim! Ainda que ela mesma jamais tenha me cobrado tal fatura.  Mas a vida – aos 40 anos já é hora de saber algo além de me vestir, me barbear sozinho – e sei que a vida sempre cobra, ainda que sob e sobre a forma de outras pessoas. Fui míope, fui mais, fui cego a tudo que a Argentina teria sido na minha vida, e o que ela já era na minha vida. Sou digno e não me eximo de pagar por isso, ainda que me custe à própria vida. Dante estava errado quando criou sua obra. Virgílio não precisava vagar literalmente em busca de Beatriz que se encontrava no paraíso, tão pouco precisava ter passado pelo purgatório, onde aqueles que pecaram podem ter uma chance de terem seus pecados expiados, remidos e se tornarem dignos de entrarem no paraíso. Mas de certa forma acertou ao criar o inferno. Sim, ele existe. Não como querem os crentes, sejam eles de quais religiões forem. Ele não é formado como descreveu Dante por nove círculos descendentes, onde a cada círculo mais abaixo a dor e o sofrimento aumenta de forma exponencial, de acordo com o merecimento do pecador. Não é necessário desencarnar para se adentrar ao inferno e tão pouco são somente nove círculos descendentes.  Em vida se entra no inferno e dentro dele há dezenas, centenas e talvez milhares de corredores sem fim onde a própria consciência se torna o inferno de cada um. Dentro dele, incapazes de escapar, pagamos pelo o que fizemos ao outro, a nós mesmos, ainda que em raras vezes não tivéssemos como não pecar, errar, mas hoje, e tão somente hoje, sei que sempre há como não deixar que o jardim que alguém tenta cultivar, que o amor que alguém nutre, seja maltratado, relegado, desprezado até. Mas novamente chego atrasado, um atraso de anos, e o tempo ainda que possa ser parado pela gravidade, não pode ser por nós.
Dentro da consciência, dos corredores infinitos que nos perdemos, que nosso subconsciente nos traz a tona durante o sono – sono esse falso, feito através de drogas cada dia em doses maiores – e nela que vivo aprisionado, me torturando de forma quase masoquista e eternamente judaica, pelo o que fiz, buscando em cada lembrança guardada e até mesmo escondida, todo o mal que causei a ela. Não há perdão.
E foi por tamanha dor em ver o que havia perdido me dando conta lentamente, a conta gotas o que havia de fato feito a alguém que nunca em momento algum teve uma única palavra, uma única ação de rancor, raiva, desprezo ou agressividade contra mim, que passei a me drogar, buscando desesperadamente dormir e abafar essa dor, esse remorso.
Não serei sutil e tão pouco hipócrita em não admitir que seja sim um viciado e cada dia me vicio mais e mais, buscando com isso fugir da minha realidade, buscando fugir de pensamentos que me atormentavam e como um ciclone giravam sem parar dentro da minha mente, num perfeito surto límbico me prendendo a fatos, realidade, pensamentos, devaneios que não me deixavam saída. Assim os anos foram passando, e noite após noite, raras foram as que não recorri a essa droga para simplesmente parar de pensar, você sabe disso.




Capítulo II

Não sei se te contei – cada vez mais minha realidade se mistura a um surto dopado onde por vezes não distingo um do outro e minha memória falha – que dias atrás acordei tendo a porta esmurrada.
Dopado, não entendia o que se passava. Tateando tentei acender a luz do quarto, mas não encontrava o interruptor. Nu sem me dar conta de tal fato, finalmente abri a porta e uma luz de lanterna foi direcionada para meu rosto, sobre meus olhos ainda semicerrados, dopados, sem entender se era sonho ou a realidade. 



CAPÍTULO III

Segundo o médico, pode ser que preciso ser operado. Ele mesmo disse que nem iria fazer o exame necessário ali no consultório, pois eu não iria suportar a dor, mas nitidamente a ferida era grande e se estendia corpo adentro. Me perguntou sobre várias coisas, sobre minha alimentação, etc... mas nada do que eu lhe disse pra ele seria motivo de tal ferida, tão pouco havia motivos aparentes para ela. Sei que quase sempre é insuportável a dor, e nem deitado ou sentado, ou até de pé consigo alívio. Temi que pudesse ser algo muito mais grave do que havia pensado quando entrei no consultório depois dele me falar que se a ferida não cicatrizasse seria necessário uma cirurgia e uma biópsia, pois poderia ser algum tipo de câncer. Me veio meu pai à mente. Nunca fumei, nunca bebi, tirando as vezes que nós dois resolvemos tomar algum porre de tequila, onde eu sempre acaba apagado na terceira dose, mas até lá, ríamos mais do que o de costume, um do outro, dos outros, de nós mesmos. Sempre me lembrava que segundo a Argentina, marguerita era bebida de mulher, e que eu deveria  parar de tomar em público, pois meu jeito já me condenava e com a bebida seria então uma confissão absoluta de viadagem.
Me prescreveu uma medicação pra dor que passei a tomar diariamente, que me aliviava por algumas horas, mas que era insuficiente, e dia após dia a ferida persistia e sangrava. E também me indicou uma melhor alimentação, mas pensei comigo mesmo que já tomo tanto cuidado com o que como ou não. Foram nove meses, quase exatos de uma dor quase insuportável, rezando para que morfina pudesse ser vendida sem tanta burocracia e que assim eu pudesse suportar o corte que me fazia literalmente sangrar diariamente, quase com hora marcada. Sei que se lembra o quanto sofri, pois me lembro o quanto tentou cuidar de mim.
Mas da mesma forma que a ferida que sangrava com hora marcada, que me impedia de andar, e até mesmo de me deitar veio, se foi. Sem explicações, sem qualquer outro tipo de tratamento médico ou até a temível cirurgia e o receio de vir a ter câncer que havia levado meu pai com apenas 52 anos. Não me lembro quando foi que acordei e não senti mais dor e vi que não havia mais sangramento e tão pouco a ferida que me rasgava de fora para dentro, sei que ela se foi. Por fim entendi o que se passava comigo. Você me conhece tão bem, sabe que sou um menino ainda na fase dos 6, 7 anos que a tudo pergunta o porquê. 
Por vezes o corpo nos faz sofrer com doenças criadas por ele mesmo, pois a dor, ainda que in casu fosse quase insuportável e por vezes insuportável, para nos poupar da dor que existe em nossas almas, em nossa mente.

Me pego chorando, como agora, com coisas simples, com lembranças pequenas, com detalhes insignificantes. Um choro de dor, que não busco mais conter. 
Sim, já vivi mais da metade da minha vida, mas ainda assim o choro que sinto e sofro é de uma criança que foi deixada para trás por sua mãe em algum lugar escuro, desconhecido, completamente só, mesmo em meio a essa multidão que passa por mim, mas sem me notar. Há uma dor que é ainda maior do que a que antes a ferida aberta e nunca fechada nem cauterizada provoca. Nesse momento não tenho nada além de dor, lembranças, remorso, solidão e uma verdade: de que estou só. Completamente só, e nem mais você que jamais pensei que um dia pudesse me deixar, se foi.
Deixo essa dor, esse sofrimento, que não sei se mereço e outras vezes por vezes acalento como se fosse uma forma de me  punir por merece-lo, tomar conta de mim, e sinto minha barba se molhar, meus olhos se tornarem míopes por causa das lágrimas. Me sento aqui nesse mesmo canto onde por tantas vezes já me sentei e só sinto a dor da vida que me foge e que perdi.


Por vezes nem eu sei mais o porquê das minhas lágrimas, mas sei que são reais, que como a ferida que me cortou por longos meses, me corta agora emocionalmente e me faz sentir uma dor ainda maior. Me jogando em um canto escuro, sozinho, chorando como senão tivesse a idade que tenho, como se não fosse um homem feito,  sendo tão somente uma criança sem um colo para se aconchegar e ser acolhido, sem uma palavra de carinho, de esperança, amor ou somente de proteção e amizade.E tudo que me veem a mente são lembranças de pessoas que perdi, de pessoas que joguei fora, de sentimentos que vivi e que sei que jamais irei viver novamente. Por um momentâneo lapso de razão, sinto que não há mais nada para mim além de um caminho solitário cercado por um alto muro que encobre o sol que já se põem.