segunda-feira, 18 de março de 2013

Sendo assim... L’chaim.

Me alimento de livros (um deles jamais deveria ter lido em toda a minha vida), filmes que geralmente assisto e na primeira vez decoro as falas, músicas que por vezes ouço repetidamente por dias, semanas, de sonhos as vezes jamais ousados se quer a serem sonhados, de amizades que nem sempre são o que pensei que seriam – eternas -  mas continuo tentando acreditar que possam vir a ser... há um vazio no meu coração por pessoas que perdi, pelo meu filho que eu covardemente abri mão devido a crueldade da mãe dele eme se colocar acima do próprio filho, por uma amiga, que era o meu único porto em toda vida,  que se foi sem me explicar o porque estava indo e hoje  deixou um vazio gigantesco, por um amor que sempre existiu, guardado de mim mesmo, que eu não sabia de sua existência, de quem  eu somente desejava um simples beijo mas tive infinitamente mais do que eu poderia ousar sonhar a vida toda, por lguns dias, poucas horas... de esperanças, de madrugadas solitárias por vezes dopado com remédios para tentar não pensar e esquecer o que sei que jamais irei esquecer pois  sou incapaz de esquecer aquilo que realmente conta, importa, é essencial na vida...Me falta a tão comum capacidade tão presente na grande maioria das pessoas em tornar o passado em passado e esquecimento, me falta talvez força para aceitar o fato de que vi o quem sou capaz de ser para uma mulher, mas jamais novaente conseguirei ser para outra. Me alimento de sonhos e esperanças, de uma força interior que nem sempre está presente, mas que por vezes e capaz de me recolocar de pé quando todos, principalmente eu já acreditava que não mais poderia ficar de pé,  e por vezes por acreditar que D'us realmente não joga dados. 


Esse sou eu, em partes... Hoje bem amargo feito um excelente chocolate Belga ou Suiço com 85% de cacau, mas buscando a cada dia -  já há exatos 96 dias -  me libertar desse bitter taste in mouth... Tenho duas doenças sem cura, uma delas controlada com medicações, exercícios e terapia:  a primeira, me roubou o que de mais precioso alguém pode ter na vida: tempo. A outra o poeta canadense Leonard Cohen a descreve em um dos seus poemas que foi brilhantemente musicado, “ain´t no cure for love”. 

Março se tornou o meu mês escolhido como o pior do ano pra sempre por ora, e um dia especificamente desse mês específico se tornou o pior dia do ano, um dia que irá se repetir de forma perfeita a cada volta perfeita e irá sempre me trazer esse vazio, essa sensação de que não deveria ser como está sendo...
 

O mundo é regido por leis rígidas e determinantes. É possível através da matemática saber exatamente onde uma determinada estrela estava no exato dia e minuto do dia 13 de janeiro de 1973, e saber exatamente onde essa mesma estrela esteve no dia 17 de março de 2013 e há 35 anos atrás; ainda que ela não realize voltas perfeitamente redondinhas, e sim, em sua maioria, elipses, ela é regida por leis que nos diz onde ela estará daqui a 5, 10, 100 anos. 


Pessoas ainda que feitas de partes, no sentido literal, desse mesmo mundo físico onde essa e todas as estrelas orbitam, feitas de poeiras de estrelas, não mudam: nós humanos, somos o que somos. Mas não somos só o que mostramos ser em um determinado momento. Não somos uma linha reta ou uma simples receita de brigadeiro. Somos mais, infinitamente mais complexos do que isso. Algumas pessoas, diria as sem graça, sem gosto, insipidas passam a vida seguindo, demonstrando um só de seus lados, outas, as que realmente me prendem a atenção, me deixa curioso e me fazem desejar estar com elas mais que um lapso de uma volta perfeitamente completa, essas demonstram – não para todos, pois como a dança das luzes do norte, ou as tempestades de areia nos desertos, são só vistas, diria, somente se apresentam para poucas pessoas. Essas pessoas tem gosto, por vezes amargo, doce, azedo, salgado ou simplesmente o quinto que ainda não lhe foi dado nome. Essas pessoas são as que me despertam interesse, todas as demais, diria as 99% restantes são como água: necessárias na vida, mas sem sabor algum. 


Escrevi por falta de uma palavra melhor que descreva, um livro, ou como eu prefiro dizer, um amontoado de palavras seguidas, conexas e por vezes sem conexão e clareza para pessoas que não sabem me ler -  mas com certeza não passa de palavras e nada mais. Ainda que com toda certeza ele não valha a pena a perda de tempo em ler seu primeiro capítulo, o seu título eu achei, sem qualquer modéstia, perfeito: O LABIRINTO DE NEVE: nem sempre se pode ser claro, ainda que eu 99% das vezes seja claro, direto e não deixe margem para dúvidas, mas in casu, o título é perfeito, ainda que não diga o que realmente é. Ninguém o leu e pode ser que ninguém o venha ler, pois eu mesmo assim prefiro. Então restaria a pergunta, o porquê de ter escrito algo que não se quer que outra pessoa venha a ler. E a resposta é simples e clara, opostamente a mim mesmo: por pura necessidade de não matar dentro de mim o que por 23 anos sempre existiu; por pura necessidade de não deixar o pior lado, de muitos dos lados, de poucas pessoas como já disse, ser o lado que iria definir tal pessoa para mim por mais 23 anos.


Ontem foi um dia de alegria, de celebração, de L’chaim, mas não foi para mim. Acreditei que passaria o dia dopado, entregue a Morpheu fugindo daquilo, de uma das minhas duas doenças sem cura, fugindo do que É, FOI e SEMPRE SERÁ infelizmente e jamais deixará de ser desde que infelizmente me foi finalmente revelado, o que havia estado guardado no canto mais profundo do meu coração por longos 23 anos. Mas estranhamente não foi como eu pensei que fosse: a AGONIA sofrida pelos gladiadores não foi tão intensa como eu pensei que seria e vinha sendo desde o começo desse mês que, não por minha vontade, mas por escolha daquilo que não temos como escolher, é só nos resta aceitar como um fato, mais uma volta perfeitamente redondinha, ou matematicamente falando, uma elipse perfeita e inevitável. Mas hoje, no dia seguinte ao dia que me foi dado sem que eu pedisse como o pior dos 365 dias, até mesmo o sol se mostra tímido e cede espaço para nuvens e uma fina chuva que parece vir tentar limpar toda essa AGONIA.


Ainda doí muito, e sei que jamais – sei de quem estou falando, sei quem são os dois personagens dessa história que já havia sido escrita antes mesmo que o mais velho deles fosse concebido e gerado, portando sei, ainda que todos, absolutamente todos teimem em querer saber mais do que o que sei sentindo – sei que jamais esse vazio será preenchido, mas a dor já é menor.

Continuo escolhendo a mim mesmo à multidão vazia e insipida, a mim mesmo à qualquer uma ao meu lado, e continuo escolhendo não acalentar tal dor – ainda que pensem que a acalento e me nutro dela. Continuo escolhendo somente ser quem eu sou: alguém insipido, sem grandes realizações ou realização alguma e que mesmo já tendo percorrido metade do tempo que me foi reservado, tem a plena consciência de quem não é, e do que pode vir a ser.

Escolho continuar de pé e acreditando que por pior que tenha sido, a grande maioria do tempo, ainda sim, o Sonho foi vivido e eu jamais deixaria de vive-lo por medo da dor, do sangue escorrendo, das cobras e lampreias disfarçadas de seres humanos com boas intenções,  e do bitter taste in my mouth que agora é o que sinto ainda que tome literalmente mel de uma colher de prata.
 

É preciso coragem para não renunciar a quem se é, como disse a Ucraniana, e amoral mesmo é aceitar menos do que se sabe que se é se tem certeza do que é o que se viu. Amoral é renunciar a si mesmo e ir deixando, não se transformar, pois não somos coisas que podem ser mudadas, mas renunciar a quem se é. Amoral e aceitar menos do que se vale.


Me alimento de livros, músicas, filmes, pinturas e acima de tudo, de sonhos. E ao contrário da grande maioria da humanidade, eu por um ínfimo lapso de uma perfeitamente volta, vivi o meu maior sonho na vida, e posso dizer sem receio algum de ser dramático, jamais voltaria no tempo e deixaria de vive-lo exatamente como o vivi.
 Sendo assim... L’chaim.